quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Como está é que não pode ser

 
 
 
Na política é-se criticado por não se fazer e criticado por se fazer. Vem isto a propósito do anúncio de um Plano Estratégico para os Transportes pelo ministro da Economia, em face do seu estado calamitoso e da insuportável carga sobre os actuais e futuros contribuintes.

Focando aqui apenas o assunto dos transportes públicos, parece-me de elementar bom senso avançar com a fusão das empresas sustentadas pelo erário público: Metro e Carris, STCP e Metro do Porto, Soflusa e Transtejo e alterar significativamente a oferta de serviço e infra-estrutural da CP e da REFER. Segundo dados do OE2011, o passivo bruto acumulado destas oito empresas atingia 16,710 mil milhões de euros, os encargos com juros andam perto dos 700 milhões por ano, e as indemnizações compensatórias inscritas no OE foram de 330 milhões. A tudo isto acresce um grande desajustamento entre a oferta e a procura. No Metro do Porto a oferta é mais do que três vezes a procura dos utilizadores, no de Lisboa não anda muito longe daquele valor. Na CP e nas empresas de travessia do Tejo ultrapassa o dobro.

Para além disto, há custos operacionais (e de gestão) injustificados, excrescências do PREC que subsistem anacrónica e injustamente nos acordos laborais, ineficiências de toda a espécie (algumas que qualquer pessoa vê a "olho nu"). Acresce o não aproveitamento dos directos e indirectos benefícios de formas integradas de gestão e não estupidamente "concorrenciais".

Em suma: estatais, municipais ou privados, o que importa é que os operadores melhorem a qualidade da oferta e diminuam o ónus sobre os contribuintes… Os protestos ideologicamente pavlovianos do costume já se ouvem, mas o certo é que as sacrossantas ideologias não resolvem estes problemas. Enquistam-nos, egoisticamente.


in jornal de negocios
Economista e ex-ministro das Finanças em governo PSD/CDS
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