quarta-feira, 12 de outubro de 2011

E se Steve Jobs fosse português?



Nunca conheci Steve Jobs nem fui grande fã da Apple. Gostava mais da eficiência da Microsoft de Bill Gates. De tal modo que o meu primeiro produto da Apple foi um iPod há uns cinco anos. Porém, tal aquisição mudou a forma como comprava música.


Também só adquiri um iPad quase um ano depois do seu lançamento. E não foi para trabalhar: queria poder ler o Economist, o FT, e tantas outras revistas quando estas saíam e não alguns dias depois, quando chegava a cópia da assinatura. O iPad mudou, porém, a forma como compro muitas coisas: hoje, grande parte das despesas que faço, faço-as na net. É assim que posso ver um livro que gosto na Amazon e compra-lo imediatamente. E, descobri depois, o iPad também era bom para trabalhar. Dava para ler livros nos aviões, e para trabalhar quando estava em reuniões ou nos táxis em cidades com o trânsito de São Paulo, Luanda ou Istambul. Substituía razoavelmente o portátil e é muitíssimo mais leve.

Steve Jobs mudou pois a minha vida mas, mesmo depois de morto, creio que vai mudá-la ainda mais. Tenho algum receio pelo futuro dos quiosques de jornais e revistas de que tanto gosto ou das livrarias que adoro. Na América, algumas das maiores livrarias já faliram porque a Amazon já vende mais livros digitais que de papel. E Jobs fundou ainda a Pixar que faz os melhores filmes de animação.

Claro que se ele tivesse tentado fundar a Apple em Portugal as coisas não tinham corrido bem.
Aliás, não teriam corrido bem desde o princípio. Como sabem, a mãe não o quis e ele foi adoptado à nascença. Ora, em Portugal, a adopção é um processo burocrático, lento e difícil. É bem possível que o nosso herói não saísse nunca das mãos dos infantários do Estado.

Mas mesmo que o fizesse, e tentasse fazer a Apple numa garagem aqui não ia ser possível. Portugal tem um sistema que não permite a um qualquer adolescente criar uma grande empresa e milhares de empregos a partir de uma garagem. Era o que faltava! Existem muitas leis, autoridades e fiscalizações para impedir esse tipo de coisa. E se essas autoridades não chegarem existem as leis fiscais para impossibilitar a criação de riqueza. E a burocracia! Há sim, a burocracia: os papelinhos que o Sr. Jobs não havia de ter de preencher cada vez que tentava colocar mais um chip nos seus produtos.

Se fosse português Steve Jobs tinha emigrado e feito a Apple noutro lado, provavelmente em Silicon Valley, exactamente onde a fez.
Mudar este estado de coisas e criar um ambiente favorável ao empreendedorismo e à inovação é das tarefas mais difíceis e importantes deste governo. E não é tarefa fácil porque, acima de tudo, trata-se de eliminar leis que não fazem falta, departamentos e autoridades que não acrescentam valor à Sociedade e que em nada contribuem para ela.

12/10/11, João Caiado Guerreiro ,  in jornal OJE

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